Em 1769, o navegador e explorador inglês James Cook e sua tripulação desembarcaram no Taiti, nas Ilhas Polinésias e viram estupefatos, que os habitantes da região usavam, no lugar das roupas, o corpo coberto de desenhos feitos da própria pele.
Em seus relatos registrados no diário de bordo, Cook escreveu que os nativos injetavam tinta preta dentro da pele que ficavam marcadas para sempre e eles tinham isso como um motivo de grande orgulho.
Ele utilizou a palavra "Tattoo" que ficou consagrado mundialmente desde então. Tatu, no idioma do Taiti, significa "desenho no corpo". Daí surgiu a palavra em português: Tatuagem.
Além da perplexidade, despertam admiração e consternação. Afinal, o que pode levar alguém a se submeter à dor e a derramar um pouco do próprio sangue para gravar na pele desenhos dos quais jamais se livrará? Segundo a Profa. Ana Matilde Pacheco Chaves, especialista em psicologia social do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo: "A tatuagem é uma forma de comunicação não verbal que oferece informação instantânea.
Quando é feita voluntariamente, é uma evidência física da lealdade do indivíduo a um grupo". Assim, é usada como sinal de identificação de tribos, inclusive as urbanas. Não existe lutador de jiu-jitsu que não tenha pelo menos uma. Os mafiosos japoneses, os yakuzas, também têm o corpo tatuado.
É bastante comum o uso da tatuagem por modismo - que ocorre hoje no Brasil - como ornamento erótico, para informar a preferência sexual de quem as exibe e provocar a resposta de eventuais parceiros, ou por casais interessados em celebrar amor eterno. O tatuador paulistano Maurício Daugirdas, 21 anos de experiência, conta que nesses casos aconselha pequenos desenhos, mais fáceis de serem camuflados em caso de arrependimento.
Recentemente foi procurado por um rapaz que queria gravar no braço o nome da namorada, Carol. Pouco depois, voltou ao estúdio de Daugirdas e lhe pediu para que apagasse o nome da amada. "Tive que fazer um desenho tribal para disfarçar o nome", diz ele. Entre as pessoas que se tatuam, existem ainda as místicas que acreditam que certos desenhos lhe conferem proteção mágica. Outras usam a tatuagem como forma de protesto ou de patriotismo, de amizade ou amor. Há quem queira registrar eventos importantes - agradáveis ou não - a data da morte de alguém querido, a realização de um sonho. Peregrinos de todas as crenças costumam exibir no corpo lembranças de idas a cidades santas.
Com exceção das populações negras, que para se embelezar produziam cicatrizes no corpo e no rosto, a tatuagem tem sido praticada em todo o planeta. "Não há nação que não conheça esse fenômeno", escreveu Charles Darwin, o pai da teoria evolucionista. Autores clássicos referem-se ao uso de tatuagem entre os gregos, germânicos e bretões. Já os romanos tatuavam seus escravos e os criminosos. Os nazistas repetiriam a prática da tatuagem como castigo. Marcavam a pele dos judeus tanto para controlá-los como para ofender a crença judaica que proíbe a tatuagem.
Como os marinheiros da era pós-capitão Cook, que se tatuavam como prova de suas andanças pelo mundo e também como sinal de valentia, ainda hoje existem pessoas que se tatuam para produzir temos aos adversários. Maurício Daugirdas revela que perdeu a conta das vezes em que deparou com valentóes que pediam tatuagens caregadas de mensagens ameaçadoras. No estúdio, porém, diante de simples agulhas, muitos tremeram. "Já vi homens de 2 metros de altura que, suando frio de nervosismo, chegaram a desmaiar no primeiro sinal de sangue."
Texto transcrito da Revista Veja de 26 de abril de 2000
Leia a transcrição original.
TATTOO-E-PIERCING.com.br - Blog e clipping de notícias e artigos sobre tatuagem (tattoos - tatoo) e body-piercing, com fotos e destaques para artistas e estúdios de tatuagem e pierging.